- O Cânon do Novo Testamento

O Cânon do Novo Testamento

 

O Cânon do N.T. foi for­mado a par­tir dos livros que reve­la­ram auto­ri­dade apos­tó­lica e foram con­si­de­ra­dos ins­pi­ra­dos pelas igre­jas em geral. Foi a par­tir do ano 50 d. C. que os pri­mei­ros escri­tos cris­tãos, divi­na­mente ins­pi­ra­dos, come­ça­ram a apa­re­cer para ins­tru­ção nas igre­jas cris­tãs. É muito pro­vá­vel que a epís­tola de Tiago seja o pri­meiro escrito cris­tão a ser pro­du­zido com essa fina­li­dade. E o último foi o livro de Apo­ca­lipse por volta do ano 95 d. C. 
Entre os escri­to­res cris­tãos tam­bém apa­re­ce­ram outros rei­vin­di­cando a ins­pi­ra­ção divina para os seus escri­tos, os quais, exa­mi­na­dos, não foram reco­nhe­ci­dos no Cânon. Assim, fez-se sen­tir a neces­si­dade de deci­dir quais os escri­tos que deve­riam ser con­si­de­ra­dos ins­pi­ra­dos divi­na­mente e dig­nos de cré­dito para ins­tru­ção dos cristãos.
Os escri­tos, à medida que cir­cu­la­vam, eram copi­a­dos e for­ma­vam colec­tâ­neas para uso pos­te­rior pelos líde­res ecle­siás­ti­cos. Paulo acon­se­lha que “quando esta epís­tola tiver sido lida entre vós, fazei que tam­bém o seja na igreja dos lao­di­cen­ses, e a que veio de Lao­di­ceia lede-a tam­bém vós (Cl. 4.16).

O Cânon do N.T., con­forme o pos­suí­mos, foi reco­nhe­cido defi­ni­ti­va­mente no quarto século. No Ori­ente foi deci­siva uma carta de Ata­ná­sio, em 367; e no Oci­dente foi rati­fi­cado no Con­cí­lio de Car­tago, em 397, ao norte de África. Não foi ela­bo­rado ali, somente foi rati­fi­cado pelos pre­sen­tes o sen­ti­mento geral exis­tente nas igrejas.

Existe um impor­tante manus­crito do século IV, guar­dado no museu do Vati­cano, que con­tém o Novo Tes­ta­mento total. É uma ver­são latina, feita por S. Jeró­nimo, e nome­ada por Vul­gata Latina, a qual ser­viu de padrão à Igreja Romana, espe­ci­al­mente a par­tir do con­cí­lio de Trento, no século XVI. 

Razões que leva­ram à for­ma­ção do Cânon
A neces­si­dade do Cânon pode ser ilus­trada pela lei­tura de Gála­tas 1.6,7 que diz assim: “Maravilho-me de que tão depressa pas­sás­seis daquele que vos cha­mou à graça de Cristo para outro evan­ge­lho. O qual não é outro, mas há alguns que vos inqui­e­tam e que­rem trans­tor­nar o evan­ge­lho de Cristo. Mas ainda que nós mes­mos ou um anjo do céu vos anun­cie outro evan­ge­lho, além do que vos temos anun­ci­ado, seja anátema.”

Esta neces­si­dade deve-se, em pri­meiro lugar, ao apa­re­ci­mento dou­tros escri­tos rei­vin­di­cando ins­pi­ra­ção divina, à seme­lhança dos apos­tó­li­cos, alguns dos quais são apre­sen­ta­dos em resumo como exem­plo: A epís­tola de Cle­mente de Roma (c. 95 d.C.) é uma carta ende­re­çada pelo bispo de Roma aos cris­tãos de Corinto, con­tendo exor­ta­ções de humil­dade a fim de resol­ver uma divi­são na dita igreja, que havia sido pro­vo­cada por gente mun­dana. A epís­tola de Bar­nabé (c. 90120 d.C.) é uma carta geral, diri­gida a todos os cris­tãos, espe­ci­al­mente para com­ba­ter o afas­ta­mento para o judaísmo. A Dida­chê (didach) (c.100 d.C.) é uma decla­ra­ção, ou com­pi­la­ção, de autor des­co­nhe­cido, daquilo que con­si­de­rou ser o ensino dos após­to­los. O Pas­tor de Her­mas (c.140 d.C.) é uma ale­go­ria cristã daquela época seme­lhante ao “Pere­grino” de Bunyan.

Em segundo lugar, a jun­tar a outros mes­tres heré­ti­cos, vem a lista incom­pleta (ou cânon) de Már­ciom (140 d.C.). É uma colec­ção das Escri­tu­ras, for­mada no inte­resse da sua here­sia, rejei­tando todo o Antigo Tes­ta­mento e dezas­seis livros do Novo Tes­ta­mento. Con­sis­tia somente do evan­ge­lho de Lucas, Roma­nos, I e II Corín­tios, Gála­tas, Efé­sios, Fili­pen­ses, Colos­sen­ses, I e II Tes­sa­lo­ni­cen­ses, e Filemom.
A ter­ceira razão deve-se à per­se­gui­ção efec­tu­ada por Dio­cle­ci­ano (303 d.C.). Ele orde­nou que todos os livros sagra­dos fos­sem quei­ma­dos. Isso obri­gou os líde­res da igreja a deci­dir quais os livros a pro­te­ger das chamas.

A for­ma­ção do Cânon obe­de­ceu a qua­tro estágios
. Homens esco­lhi­dos por Deus escre­ve­ram ins­pi­ra­dos por Ele a men­sa­gem de sal­va­ção para o povo.
. Cris­tãos fiéis fize­ram cópias dos escri­tos rece­bi­dos e trocavam-nos com outros cristãos.
. Líde­res ecle­siás­ti­cos espi­ri­tu­ais citaram-nos em seus escri­tos na sua ins­tru­ção da igreja.
. O Con­cí­lio de Car­tago (no IV séc.) rati­fi­cou ofi­ci­al­mente os livros que a nossa Bíblia pos­sui actu­al­mente, por satis­fa­ze­rem os tes­tes canónicos.

A for­ma­ção do Cânon obe­de­ceu a qua­tro testes
. Apos­to­li­ci­dade visí­vel. O docu­mento devia mani­fes­tar a auto­ria dum após­tolo, ou pes­soa que lhe esti­vesse inti­ma­mente asso­ci­ada. Exem­plo do último caso é Lucas.
. Ins­pi­ra­ção com­pro­vada. O docu­mento devia pos­suir evi­dên­cias cla­ras de que era ins­pi­rado pelo Espí­rito Santo.
. Espi­ri­tu­a­li­dade mani­festa. Devia reve­lar um carác­ter espi­ri­tual e moral ele­vado, e exal­tando a pes­soa e a obra de Cristo.
. Uni­ver­sa­li­dade mani­festa. O docu­mento tinha de ser aceite e usado pela igreja na generalidade.

Lite­ra­tura Apócrifa
Apó­crifo sig­ni­fica oculto, secreto, algo escon­dido. Os apó­cri­fos do Antigo Tes­ta­mento fornecem-nos algu­mas infor­ma­ções his­tó­ri­cas; porém, nenhum deles é citado cla­ra­mente no Novo Tes­ta­mento. Além disso, alguns con­têm rela­tos mila­gro­sos não cre­dí­veis. Ape­sar disto, apa­re­cem asso­ci­a­dos aos canó­ni­cos na Sep­tu­a­ginta (LXX) e na Vul­gata, por cujo motivo cons­tam nas Bíblias de edi­ção cató­lica. Ser­vem sim­ples­mente como lite­ra­tura cultural.

Os Apó­cri­fos do Antigo Tes­ta­mento são: Tobias, Ecle­siás­tico, Acrés­ci­mos Ester, 1 Maca­beus, Judite, Baru­que, 1 Esdras, 2 Maca­beus, Sabe­do­ria, Acrés­ci­mos Daniel, 2 Esdras, 3 Macabeus.

Os apó­cri­fos refe­ren­tes ao N.T. são uma colec­tâ­nea de escri­tos obs­cu­ros, base­a­dos em len­das, cuja apa­ri­ção come­çou no II século, prolongando-se até ao VII. São ten­ta­ti­vas de pre­en­cher lacu­nas exis­ten­tes no relato bíblico, sobre­tudo no que diz res­peito à infân­cia de Jesus, nati­vi­dade e morte de Maria. Estes jamais foram asso­ci­a­dos aos canó­ni­cos. A lista é extensa demais para serem nome­a­dos aqui.
Os escri­tos apó­cri­fos foram rejei­ta­dos por não satis­fa­ze­rem o teste de cano­ni­ci­dade men­ci­o­nado acima. Os seus ensi­na­men­tos con­tra­di­zem as demais Escri­tu­ras. Além disso, mani­fes­tam alguma ine­xac­ti­dão his­tó­rica e geo­grá­fica, e não con­têm fac­tos sobre­na­tu­rais cre­dí­veis, como as outras Escri­tu­ras.